Já ouviram falar dos "Antinatalistas"?

Antinatalistas


O movimento que defende o fim do ser humano para salvar o Mundo

São poucos, apesar de dizerem que são cada vez mais, mas a teoria que defendem faz destes seres humanos uma espécie em vias de extinção: são os antinatalistas, pessoas que defendem o fim da raça humana, como forma de salvar o mundo.

O guru do movimento é um filósofo sul africano, David Benater, de 61 anos que escreveu, entre outros, o livro "Better Never to Have Been" (Melhor nunca ter existido, em tradução livre). "O antinatalismo defende que não deveriam nascer novas pessoas no mundo", explicou o filósofo.

"Há numerosas evidências psicológicas de que as pessoas sobrestimam a qualidade de vida, pensam que é melhor do que é na verdade. Outro erro frequente é pensar no futuro e não dar-se conta da quantidade de sofrimento que muito provavelmente as pessoas terão no fim das vidas", argumenta Benatar, elencando os argumentos base desta filosofia.

"Uma delas é que não deveríamos dar vida a pessoas que no futuro vão enfrentar sofrimento. Há muitos argumentos, mas um deles é que há muita dor e sofrimento na existência humana. Por isso é um horror trazer novos seres humanos ao mundo", sustenta Benatar, em entrevista à cadeia de televisão inglesa BBCNo mais recente livro, "The Human Predicamente", aprofunda o tema. Apesar de considerar que a vida "é uma sucessão de frustrações e irritações", manifesta-se contra o suicídio. A questão não está em perguntar se vale a pena viver, porque aí a resposta é sim, visto que morrer é pior. A questão é vale a pena nascer? "Não", argumentou, em entrevista à revista "New Yorker".

Benatar não gosta de ser fotografado, nem de falar da vida pessoal. "Se tivesse um filho seria um hipócrita por defender esta tese, mas a minha argumentação continuaria válida", respondeu, ao justificar a recusa, centrando a questão no mais básico :viver é sofrer, mas valia não ter nascido.

O movimento tem seguidores em todo o Mundo, mas vai crescendo com nuances, com os antinatalistas a juntarem argumentos políticos e ecológicos ao pensamento filosófico de Benatar.

Movimentos ganha visibilidade em Espanha

Em Espanha, o movimento começa a ganhar visibilidade. Anabel Roselló, porta-voz do Instituto de Medicina Sexual de Madrid, confirma que já tratou antinatalistas na clínica. "Temos tido casos de pessoas jovens que decidiram esterilizar-se porque consideram que há demasiadas crianças no mundo".

É o caso de Gemma Orozco. "Considero que ter um filho é um ato egoísta que responde apenas aos interesses dos progenitores", disse. Tem 25 anos, ganha a vida como técnica informática e vive em Lérida, Espanha, mas reproduz fielmente a filosofia do guru do antinatalismo. "Viver é sofrer, e quem não existe não sofre. Sou antinatalista desde que tenho cabeça para pensar", argumentou, em declarações ao jornal espanhol "El Mundo".

Há, ainda, o argumento político para os que defendem o fim da raça humana. "Vivemos num tempo de capitalismo terrível e implacável e ter um filho significa dar-lhe mais carne para canhão", argumenta Gemma, que vê na carne, a que nos chega ao prato, outro motivo para evitar ter filhos.

"O nosso planeta está superpovoado. A indústria pecuária é das principais responsáveis pelas alterações climáticas e pela desflorestação, por isso não é razoável trazer ao mundo mais seres humanos", argumenta.

Audrey García, apesar de não comer nada de origem animal também não quer à face da Terra o animal com polegares oponíveis que se superou a todos os outros.

"Imaginemos que tenho dois filhos, que por sua vez têm outros dois filhos cada um. Em 70 anos de vida, teriam contribuído para matar, no mínimo, 37800 animais. Assim, geração atrás de geração. Não quero ser responsável por estas mortes", argumenta Audrey.

"Estou de acordo com a ideia de a espécie humana é monstruosa e está a causar danos irreparáveis a outras espécies e ao Planeta", sentencia Mara Rodríguez, uma fotógrafa espanhola de 26 anos. "É algo muito claro para mim desde que era criança. Não quero filhos. Não combinam comigo, com o meu projeto de vida", acrescenta.

Antinatalistas aderem à esterilização

Mara foi a um centro da Segurança Social espanhola pedir que a esterilizassem. O pedido foi recusado. "Disseram-me que era muito jovem e que teria de ter pelo menos 35 anos para poder fazer esse tipo de intervenção", contou. "Senti-me maltratada, humilhada, como se não tivesse idade e não tivesse direito de decidir sobre o meu próprio corpo", acrescentou.

Gemma também passou pelo mesmo. Após a recusa da Segurança Social, optou por fazer a laqueação das trompas no privado. "Estou encantada", argumentou, dizendo que lida bem com as piadas da família e amigos, que apesar de entenderem a decisão lhe dizem que não vai ter quem cuide dela quando for velha. "Ter um filho por esse motivo, para que cuide de ti na velhice, parece-me muito egoísta", acrescentou.

Apesar da convicção destes militantes, nem o guru do movimento acredita que a espécie humana possa deixar de reproduzir-se. "Considero que o antinatalismo pode ter expressão a pequena escala, que algumas pessoas deixem de procriar. Ainda que seja a pequena escala será importante, porque poupará do sofrimento muita gente que não virá ao mundo", argumenta David Benatar.

Um jovem na Indía processa os pais por ter nascido. 
Raphael Samuel, de 27 anos, faz parte de um movimento antinatalista da India, que defende que as pessoas devem abster-se de terem filhos, por motivos morais









Um jovem natural da Índia processou judicialmente os pais por o terem concebido sem a sua autorização. Acusa-os de serem hipócritas.
Raphael Samuel, de 27 anos, faz parte de um movimento antinatalista da Índia, que defende que as pessoas devem abster-se de ter filhos por motivos morais.

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