Já ouviram falar em "Autoped"?

Para quem acha que as trotinetes são o último grito da moda urbana, em Agosto de 1918 já faziam capa na revista Ilustração Portuguesa. Chamavam-lhe Autoped...

Trotinetes elétricas: em 1918, já eram moda entre a elite portuguesa



Lime, Bungo, Mytaxi, Voi: o que não falta, hoje em dia, são serviços de trotinetes elétricas. Pelas ruas de Lisboa, encontramos e-scooters em todo o lado. A febre das trotinetes é bastante recente — chegou a Portugal o ano passado — mas não será, afinal, uma invenção do século XXI As primeiras surgiram em Portugal no início do século XX — e até foram capa de revista.
É preciso recuar um pouco no tempo para compreender o fenómeno naquela época. Em 1896, Susan. B Anthony, conhecida pelo seu trabalho na luta dos Direitos das Mulheres, dizia que “a bicicleta fez mais pela emancipação das mulheres do que qualquer outra coisa no mundo”. Nessa altura, eram poucos os meios para as pessoas se deslocarem — carruagens e cavalos eram uma opção, mas muito cara. Pode parecer estranho, mas a invenção das bicicletas, em 1817, e, mais tarde, a sua popularização, contribuíram muito para os direitos das mulheres. Porquê? Era um objeto barato e fácil de usar, mas também dava a oportunidade às mulheres de poderem andar mais livremente e terem maior autonomia. Para além disso, rapidamente tiveram de adaptar os seus vestidos compridos e substitui-los por calças, que tornavam as viagens mais práticas.

Quando as primeiras bicicletas motorizadas surgiram, no início do século XX, imagens de mulheres a andar tanto em bicicletas como trotinetas elétricas passaram a ser ainda muito comuns.
Portugal não foi exceção à regra. A 14 de Junho de 1914 inaugurava-se o 1º Salão Automóvel do Porto, no Palácio de Cristal. O evento contou com 49 marcas de automóveis e algumas de motociclos. Foi apenas um ano depois, em 1915, que a Companhia Autoped começou a produzir as trotinetas motorizadas, em Nova Iorque. Foram criadas com o objetivo de percorrer pequenas distâncias e são consideradas as primeiras scooters motorizadas feitas na América.
Estas e-scooters da marca Autoped seriam as que mais se viam no Porto. Prova disso é a capa da Ilustração Portuguesa, publicada a 14 de Agosto de 1918, que mostra “a Sra. D. Ru Soares, distinta sportswoman, passeando no seu autoped”.
Ainda assim, em Portugal estas e-scooters não parecem ter tido tanta importância como fora do país: “Não tenho ideia de que tenha tido alguma relevância, era uma curiosidade tecnológica, como havia muitas”, explica Rui Ramos, historiador, referindo que não foi algo “socialmente significativo”. Apesar disso, rapidamente se lembrou da capa da revista da Inauguração Portuguesa que foi publicada em 1918.
Essa mesma ideia foi também reforçada por Emanuel Barbosa, professor de design e investigador em motociclos portugueses, que afirmou que “era apenas uma curiosidade, tal como outras inovações tecnológicas”, reforçando que, no início da era da motorização, foram feitas “inúmeras tentativas de aplicação de diversas tecnologias”, em automóveis, motos, trotinetes e até patins motorizados. As trotinetes Autoped, de acordo com o professor, podiam, na altura, ser alugadas no Palácio de Cristal do Porto, mas apenas algumas personagens da sociedade — “uma elite” –, as utilizavam diariamente, como acontecia com os automóveis, motos e aviões.
Atualmente, podemos ver trotinetes elétricas, mas um pouco mais modernas. A startup norte-americana Lime está em Lisboa desde Outubro de 2018. De acordo com o relatório anual publicado pela empresa, só no ano passado (e em apenas dois meses), a cidade portuguesa teve cerca de 53 mil utilizadores, sendo que tem a taxa mais elevada, de 57%, na categoria de deslocações para o trabalho ou escola. Entretanto, já foi anunciado que as trotinetes elétricas vão chegar a outras duas cidades: a VOI vai ser a primeira empresa a levar as e-scooters até Faro, e também já foi confirmado que a empresa Lime , em Março, vai ter as trotinetes não só em Lisboa, mas também em Coimbra.




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