Por que muda a hora? e quais as confusões que já originou?

É já este domingo que entra em vigor o horário de inverno. As polémicas sobre a mudança da hora vêm do século XVIII - o que mudou foi a forma como cada país as abordou. Vejamos as confusões que este conceito já causou em vários países.


Os relógios vão atrasar 60 minutos esta madrugada para dar início ao horário de inverno. Em Portugal continental e na região autónoma da Madeira, os relógios deverão ser atrasados uma hora quando forem 02.00 de domingo, passando a ser 01.00.

Na região autónoma dos Açores, a mudança será feita à 01.00, passando para 00.00. A hora legal voltará depois a mudar a 28 de março 2021, para o regime de verão.

O atual regime de mudança da hora é regulado por uma diretiva (lei comunitária) de 2000, que prevê que todos os anos os relógios sejam, respetivamente, adiantados e atrasados uma hora no último domingo de março e no último domingo de outubro, marcando o início e o fim da hora de verão.

Porque muda a hora?

"Tempo é dinheiro", sentenciam os súbditos de Sua Majestade Britânica. Mas também é vida, acrescentarão os mais dados à filosofia. No princípio do século XX, agastados com a provável adoção por decreto governamental da chamada "hora de verão", foram muitos os que acorreram ao Parlamento, exigindo que não lhes fosse roubada uma hora. Entre os defensores da proposta contavam-se tanto parlamentares trabalhistas (como Lloyd George) ou conservadores (como Churchill), o rei Eduardo VII (que tinha o seu próprio tempo no Palácio de Sandrigham, pois adiantara os relógios meia hora), o diretor do Banco de Inglaterra e o administrador do Harrods, mas falou mais alto a oposição das ligas de agricultores, dos donos dos teatros e do próprio astrónomo real, William Christie. A medida só vingaria em 1916, quando a economia de guerra ditou a sua draconiana lei. Sabendo-se que o tempo civil (e o modo como o contabilizamos) não reflete o tempo solar que, ao longo do ano, varia de forma não uniforme, há que assumir que são, afinal, a política ou a economia a dizerem a quantas andamos. Dito de outra forma: os donos do tempo são, afinal, os donos disto tudo.

A consulta sobre a mudança da hora recentemente lançada pela Comissão Europeia sobre as preferências da população dos Estados membros nesta matéria retoma uma questão antiga, a que cada época e país tem respondido de forma diferente, em função das conveniências da geoestratégia. Em 2011, por exemplo, eram 110 os países que, tal como Portugal, mudavam a hora duas vezes por ano (na Europa, aliás, só havia uma exceção - a Islândia). Mas esse seria também o ano em que o então presidente russo, Dmitri Medvedev, decretou que, para inverno, já chegavam 30 graus negativos. Doravante, os seus concidadãos viveriam permanentemente em horário de verão, numa tentativa de diminuir as depressões causadas por noites demasiado longas.

Entre 1992 e 1996, Portugal fez uma experiência idêntica, mas, como recorda o relatório sobre a escolha da hora legal portuguesa, emitido em agosto último pelo Observatório Astronómico de Lisboa, o impacto sobre a saúde dos cidadãos não foi o melhor, já que foi estabelecida uma causalidade direta entre essa prática, o aumento do consumo de ansiolíticos em jovens e menos jovens e até o aumento da sinistralidade rodoviária. Noites mais curtas significavam também menos horas de sono.

Poupar na cera e no carvão

As polémicas sobre mudanças de hora remontam ao século XVIII, quando o norte-americano Benjamin Franklin, tão conhecido pela curiosidade enciclopédica como pelo barrete de dormir com que era retratado, publicou no Journal de Paris um ensaio intitulado "Economical Project for Diminishing the Cost of Light". Retardando o anoitecer, demonstrava, reduzir-se-ia também o consumo de velas em casas, oficinas e escritórios.

O problema voltaria a colocar-se já no século XX, em plena era do carvão e da eletricidade. Em 1916, exauridos pelo esforço de guerra, os beligerantes em confronto adotaram o horário de verão. Portugal, que desde 1911 seguia a hora de Greenwich, imitou os outros países europeus, atrasando os ponteiros dos relógios pela primeira vez a 17 de junho (para fazer a operação oposta a 1 de novembro). A novidade não deixaria de causar polémica e de dividir opiniões. Nesse mesmo mês de junho, Mário de Almeida escrevia assim na Illustração Portugueza: "Um amigo meu gastou duas horas a explicar-me as vantagens desta hora que todos estamos desfrutando. Falou-me do carvão, do calendário, das fábricas da Covilhã e da elíptica. Não percebi nada."

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