Afinal não foi o Bulhão Pato que criou a receita das Ameijoas à Bulhão Pato??
Raimundo António de Bulhão Pato (1828-1912) foi um escritor que ficou mais conhecido como amante da boa vida, caçador, gastrónomo e inventor de algumas receitas do que pelos seus poemas.
Não foram os versos que lhe garantiram o lugar na História. Foi uma receita de amêijoas, que nem sequer se tem a certeza de ser da sua autoria. Na Trafaria, nunca faltam as amêijoas à Bulhão Pato.
No seu livro Escritores à Mesa (e outros artistas), o crítico gastronómico José Quitério reproduz algumas dessas receitas: perdizes à castelhana (que começa com uma indicação muito prática: "depenem-se quatro perdizes com todo o cuidado e o maior asseio"), arroz opulento e lebre à Bulhão Pato. Tudo pratos com um grau de elaboração superior ao das amêijoas que ganharam o nome do poeta.
Acontece, no entanto, que as amêijoas não foram uma dessas receitas inventadas por Bulhão Pato.
José Quitério garante não existir qualquer escrito que demonstre a autoria do prato, admitindo-se que tenha sido uma homenagem de algum cozinheiro ao poeta. A ser o caso, escreve Quitério, só poderia ser João da Mata, chefe de cozinha do antigo Hotel Bragança e, contudo, a receita também não aparece no seu livro Arte de Cozinha, de 1876.
Nos tempos de Bulhão Pato, há muito que se comiam (e apanhavam) amêijoas na zona de Lisboa. Mas parece que ninguém tinha ainda pensado na forma mais simples possível de as cozinhar a forma que Bulhão Pato, poeta menor e com obra esquecida, inspirou.
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