Dançando até cair nas maratonas de dança dos anos 1920-1930 sabiam que alguns morreram nas pistas de dança?

 O crash da bolsa em 1929, que resultou na Grande Depressão, tornou-se o maior desastre económico no mundo industrial. Em 1931, as ações valiam apenas 20% do valor nominal de 1929, a produção industrial caiu pela metade, um em cada quatro estava desempregado. Em 1935, metade dos bancos norte-americanos e empresas estavam falidos. Mesmo a "Ford Motor Company", o maior empregador do país, fechou seus escritórios.

Assim milhões percorriam o país atrás de trabalho, muitos mendigavam, outros roubavam. A "Northern Pacific Railway" estimou a expulsão de ao menos 683 mil vagabundos de seus vagões por ano! Nesta época de sonhos desfeitos e bolsos vazios, floresceu uma das piores formas de entretenimento: a maratonas de dança, uma forma de escapar de todo o sofrimento e ter um meio de subsistência.

As maratonas de dança (também chamadas Walkathons), eram em verdade competições de resistência em que os casais dançavam quase sem parar durante centenas de horas, competindo pelo dinheiro do prémio. Surgiram no início dos anos 1920 como um passatempo inocente, mas logo se tornaram um negócio muito rentável. Havia algo estranhamente fascinante e atraente em ver pessoas em um agonia dolorosa à beira do desmaio. Milhares de pessoas pagavam para ter direito a assistir este show bizarro.

Para muitos participantes destas maratonas, o prémio significava a realização de um sonho. Os prémios variavam de 1 a 5 mil dólares, o que era uma pequena fortuna para a época (o salário médio no país era de 1.368 dólares por ano). Mas absurdamente a maioria dos envolvidos apenas participava por um teto sobre sua cabeça, comida de graça, bem como era uma forma de obter cuidados médicos, que eles próprios não podiam pagar. Muitos viajavam por todo o país atrás de uma maratona e outra, tentando garantir a sua existência.

As maratonas eram intermináveis, duravam semanas, inclusive meses, com pessoas dançando contra o relógio. Um papel especial pertencia ao mestre de cerimónia. Sua tarefa principal era entreter o público, criando novas tarefas para os competidores. A variante mais comum era conhecida como "derby", quando, depois de várias centenas de horas de dança, os participantes já à beira da exaustão física e emocional, tinham que correr ao longo de faixas pintadas no chão.

Se isso tudo já não fosse o bastante, muitas vezes, os organizadores contratavam falsos casais que estavam ali só para começar uma briga na pista de dança, um entretenimento adicional esperado pelo público. Muitos norte-americanos iam para as maratona só para ver a briga ensandecida de mulheres. Além disso, as vezes exigiam dos participantes que cantassem uma música encomendada pelo público. (claro, sem parar de dançar.)

Alguns participantes realmente morreram na pista de dança, mas isso não impediu que o espetáculo dantesco continuasse. Muitas vezes, os dançarinos tinham alucinações, o que também entretinha o público, afinal o que poderia ser mais divertido do que assistir uma pessoa na pista dançando para elefantes imaginários? Alguns outros morreram após a maratona, a falta prolongada de sono cobrava seu pedágio e as pessoas caiam em estado de coma, e como eram pobres demais simplesmente não recebiam os cuidados necessários.

O recorde na história das Walkathons aconteceu na "Million Dollar Steel Pier Marathon", em Atlantic City, realizada de Junho a Novembro de 1932 (um total de 173 dias, 4.152 horas e 30 minutos - sem parar). O valor do prémio: míseros mil dólares.




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