Eça de Queirós nasceu a 25 de Novembro de 1845



Eça era filho natural do magistrado José Maria de Almeida Teixeira de Queirós (nascido no Rio de Janeiro, em 1820) e de ... mãe desconhecida, como consta da certidão lavrada na Cidade da Póvoa do Varzim. Mas a mãe era conhecida e se chamava Dona Carolina Augusta -- simplesmente, era solteira.
E embora os seus pais se tenham casado quatro anos depois do seu nascimento, Eça nunca se esqueceu, ou perdoou a humilhação de ter nascido filho ilegítimo, numa sociedade muito preconceituosa. 
E assim fez-se adolescente, numa época em que não havia um psicanalista. 
Talvez por isso nunca falou da sua infância conscientemente. 
Daí, talvez, todas as suas principais personagens mulheres terem sido adúlteras, desonestas, dissimuladas ou ... incestuosas, como a meia-irmã-amante, Maria Eduarda.
Eça nasceu em 25/11/1845 e morreu em Paris, na cidade de Paris que amou, descreveu e bebeu – tanto em vinho quanto culturalmente – na sua casa em Neuilly-sur-Seine. 
Morreu com 55 anos, em 16/8/1900, provavelmente de um cancro no estômago. Tinha algum dinheiro mas estava longe de ser rico. (Se fosse um novelista americano dos anos 1970, estaria com casa em Malibu e milhares no banco). O que se explica, talvez, pelo seu temperamento obsessivo. Em tudo. 
Magro de nascença, tinha pavor de engordar. Ele mesmo se descrevia usando o perfil do seu alter-ego nos Maias, o irreverente João da Ega, “como um homem esguio, com pernas de cegonha triste, pálido na aparência e negro no vestir.” Aliás o seu pavor era parecer com outro figurante de Os Maias, um dos seus mais caricatos personagens, o Damaso Salcéde “sempre néscio, sempre a suar, com as coxas a estalar nas calças... 
Eça e as suas contradições
Obcecado pela magreza, como dissemos era, no entanto, um gourmet, no sentido mais culto da palavra. 
Tanto que nenhum escritor do seu tempo descreveu melhor os jantares (o peixe entalado na mansão do Príncipe da Grã-Venura nos Champs Élysées, os banquetes no Ramalhete, os regabofes no Grémio e a sopa de Vicença, em Tormes, nas Cidade e as Serras. 
Ou o "boeuf à la mode" em Paris...
Ele mesmo comia bem e bebia bem. No entanto, acabava de comer e ficava de pé ou então andava quilometros.
Outra obsessão era com a perfeição. Ele mesmo fazia blague, dizendo que se tivesse que espirrar, logo se preparava para emitir um som harmónico, compassado... 
Ingressou na carreira diplomática em 1870, serviu em Havana, Bristol (Inglaterra) e finalmente em Paris, onde se casou e pode se dedicar com todo o empenho à literatura. O salário dava para viver “possivelmente” mas ele se queixava com o brilho de sempre: “Ontem, na Rua de… caiu inanimado de fome um indivíduo bem trajado. Conduzido para uma botica próxima o infeliz revelou toda a verdade – era o embaixador português. Deram-lhe logo bifes. O desgraçado sorria, com as lágrimas nos olhos.” 
Este trecho foi tirado de um magnífico ensaio do embaixador e intelectual português Francisco Seixas da Costa. 
Datam da década de 70 as obras que iriam lançá-lo como escritor, "O Crime do Padre Amaro" (1875) e "O Primo Basílio" (1878).
Mas a sua produção planetária, o grande painel da sociedade portuguesa do fim do século XIX – e que o consagrou – foi escrito nas décadas seguintes: "A Relíquia" (1887), "Os Maias" (1888) e "A Ilustre Casa de Ramires"; 1900.
Além disso, postumamente, vieram a público outras obras, entre as quais "A Cidade e as Serras" (1921), "Alves & Cia. (1925) e "A Tragédia da Rua das Flores" que, a pedido do autor, só foi publicado 80 anos após a sua morte. 
Suas obras foram traduzidas para 17 idiomas/dialectos: espanhol/basco/catalão,
inglês, francês,italiano, alemão, holandês, sueco, húngaro, polaco, romeno, eslovaco, búlgaro, russo, japonês e islandês. 
E brasileiro!
Ou seja, Eça foi um fenómeno editorial em vida e após, mas morreu com medo que a sua obra fosse enterrada com ele, em Santa Cruz do Douro.
Medo infundado. Eça está para a língua portuguesa do final do século XIX, como, talvez, Machado, para o nosso, no início do XX.
E para sempre, enquanto se falar (e ler) português! 
Com uma diferença: Eça era satírico, a sua gargalhada queria corrigir um Portugal de tamancos espremido no verniz de um borreguim inglês; Machado era irónico, seus personagens expressavam, sobretudo a conformação com “a dor de viver”.

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