Sabem quem foi a primeira rainha portuguesa a ser inseminada artificialmente?
D. Joana de Avis (1439 -1475), infanta de Portugal, foi rainha de Castela enquanto esposa do rei Enrique IV de Castela. Apesar deste último ter recebido o cognome de “o Impotente”, o casal régio teve descendência legítima na pessoa de D. Juana de Castela.
O problema disfuncional que
causava a impotência a Henrique IV está bem documentado quer por descrições de
exames urológicos feitos em vida do monarca, quer por análises aos seus restos
mortais efectuadas também no século XX.
O rei de Castela não
conseguia consumar a cópula, impedido por um constrangimento físico na anatomia
funcional do seu pénis.
Mas a necessidade de
assegurar descendência legítima, e assim continuar a sua linhagem na coroa de Castela,
levou a que medidas “excepcionais” fossem tomadas.
Havia uma indicação anterior
inscrita na “Lei de Partidas” de Alfonso X de Castela, o Sábio, que autorizava
a praticar nos reis de Castela “as mestrias que se façam” para resolver os seus
problemas reprodutivos, mas sempre no respeito pelo direito natural tal como
proclamado pela Igreja Católica.
E que “mestrias” eram essas?
Enrique IV recorreu à “concepção sem cópula” (sine concúbito) para engravidar D. Joana de
Portugal. Para isto fez chamar um físico (médico) judeu, especialista que
terá efectuado essa “mestria” no casal monarca. Estas práticas eram proibidas
pela Igreja Católica, mas não pela lei judaica.
De facto,
está bem documentada o reconhecimento da concepção sem cópula como sendo
possível e legítima “pelos sábios judeus da antiguidade, a primeira vez no
século V d. C., no Talmud da Babilónia” e existem referências precisas a este tema “nas obras de
rabinos judeus dos séculos XIII e XIV da área mediterrânica”.
Quem o escreve é o
historiador argentino Marsilio Cassoti, no seu livro “A Rainha Adúltera”,
biografia editada em Outubro deste ano entre nós pela A Esfera dos Livros.
Nesta obra é também indicada
pelo menos uma fonte que documenta a prática de inseminação artificial ou,
poderíamos dizer mais exactamente, inseminação assistida, num texto árabe
datado de 1322, no qual se relata a história de um habitante do antigo reino da
Núbia ter efectuado aquela “técnica” para inseminar éguas com sémen de cavalos
de outros estábulos.
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