17 de Maio de Maio o Cristo Rei faz 60 anos

Cristo Rei. Há 60 anos a “abraçar” Lisboa


O monumento a Cristo Rei, em Almada, foi inaugurado a 17 de Maio de 1959, dez anos depois de ter sido lançada a primeira pedra. Mas, o sonho de o construir começou muitos anos antes, não teve logo a ver com a intenção de livrar Portugal da guerra, e só ganhou forma depois do cardeal Cerejeira ter visitado o Rio de Janeiro, em 1934, e ali ter visto a imagem de Cristo Redentor.
Sezinando Alberto, reitor do Santuário de Cristo Rei, conta à Renascença que “nos anos anteriores à II guerra havia um certo afastamento de Deus. Os regimes totalitários estavam-se a impor, e vivia-se no auge da Ação Católica. A festa de Cristo Rei tinha sido fundada em 1925, portanto havia um contexto propício para a militância católica e para a afirmação dos valores da fé”, o que levou os bispos a dizerem “num mundo onde se vê um crescimento do 'não' a Deus, nós, os portugueses, vamos dizer 'sim' a Deus através da construção deste monumento. Portanto, a ideia principal é uma ideia, de facto, de militância”.
Foi quando a guerra se tornou inevitável que os bispos ligaram a construção do monumento à não participação de Portugal no conflito. “Tinham a perfeita consciência do desastre que foi a guerra de 1914/18, da fraca preparação de Portugal, e sabiam que a segunda guerra seria muito pior. Então, reunidos em Fátima a 20 de Abril de 1940, secretamente, sem ninguém saber, fizeram a promessa no final do seu retiro, que se Portugal não entrasse na guerra, ergueriam em Lisboa esta imponente imagem que estamos aqui a ver hoje. Este voto só é transmitido em 1946, o que significa que houve muito tempo em que não se disse”.
Em 1949 foi lançada a primeira pedra do monumento, que começou a ser construído em 52, e foi inaugurado em 59. Mas, 60 anos depois, que importância tem o Cristo Rei, para além de ser um miradouro privilegiado sobre Lisboa? Muita, responde o padre Sezinando. O Santuário está a receber cerca de 1 milhão de visitantes por ano, e são cada vez mais os que o procuram como local de culto, que é, e não como mera atração turística.
“A partir 2009, e até à data de hoje, com as novas infraestruturas de acolhimento, aumentou bastante o número de peregrinos”, diz o padre Sezinando, que já fez as contas e garante que “já deve passar de um milhão de pessoas a vir cá, porque eu estou a falar não só de quem vai lá acima, mas de quem vem cá e não sobe. Só um terço é que o fazem. Ainda há dias vieram aqui 9 autocarros, dos cruzeiros, as pessoas foram à capela, viram a vista cá de baixo e foram embora, não subiram. E esses não são contabilizados. Nem contabilizamos as pessoas e os grupos que vêm aqui ao edifício de acolhimento fazer os seus retiros. Quando aqui cheguei, em 2003, no elevador subiam lá acima 110.000 pessoas. O ano passado foram mais de 300 mil, triplicou”.
Entre os peregrinos há cada vez mais estrangeiros. “Penso que os portugueses ainda continuam a ser os que vêm cá mais, mas nos últimos anos, com o turismo em Lisboa, tem havido muita gente de outros países”. Daí a preocupação em ter informação acessível em vários idiomas. “Inclusivé nas celebrações religiosas, já temos vários missais, porque há muitas celebrações noutras línguas. Para ter uma ideia, o ano passado houve meses em que tivemos 60 missas estrangeiras na capela, o que significa que as pessoas não vêm cá só por turismo, vêm em peregrinação dos seus países a Fátima, por exemplo, e Cristo Rei faz parte do percurso”, conta. Os dados disponíveis indicam que aumentaram muitos os peregrinos de leste, “da Polónia sobretudo”, mas há também muitos italianos, espanhóis e asiáticos.
Aposta na arte: “as pessoas não vêm só pela paisagem”
O padre Sezinando acredita que a requalificação do espaço terá contribuído para o aumento do número de visitantes. Nos últimos anos a imagem do Cristo Rei foi limpa, com recurso a técnicas de alpinismo, o elevador foi reparado, e foram encomendadas várias obras de arte, de pintura e escultura, a artistas portugueses e estrangeiros. Uma aposta que vai continuar.
“Como o Santuário tem grandeza internacional, convidámos alguns artistas estrangeiros”, conta o reitor. É o caso da pintora espanhola Isabel Guerra (religiosa do Mosteiro cisterciense de Santa Lucía, em Saragoça), do escultor da América Latina Edwin González , que “está neste momento a trabalhar nalguns mistérios da Paixão do Senhor”. Aguardam, ainda, novas peças de outros artistas, como o escultor espanhol Marco Augusto Dueñas, e o arquiteto português Sousa Araújo, que “já é conhecido na casa”, porque já são “quase 15 anos de colaboração através das suas esculturas”.
“Eu costumo dizer que os santuários não são paróquias, e como tal têm que ter uma forte vertente catequética, para atrair as pessoas a virem, não só por causa da paisagem, mas devido ao envolvimento do próprio templo”, diz Sezinando Alberto, para quem “isso sem a arte não se faz”.
“Eu aposto muito nas imagens, na sinalética, para que cada pessoa que aqui chega e olhe cada quadro, cada escultura, cada baixo relevo, cada imagem, se interrogue ‘o que é isto? O que é que são os Sacramentos da Igreja? O que é a oração? O que representa o credo para os cristãos? O que são os mistérios do Terço? O que é a agonia? Tudo o que temos aqui tem esse objetivo de provocar as pessoas para os valores da fé”.
Para assinalar estes 60 anos está prevista a apresentação de uma outra obra arte. “Vamos uma peça musical que envolve muita gente, muita despesa, mas que achámos que era importante também o Santuário promover esta vertente musical, para desenvolvermos os valores da fé para outro público, quem gosta de música”. A ‘Cantata a Cristo Rei’, com letra de D. Carlos Azevedo e música do cónego Ferreira dos Santos, vai ser apresentada sábado, às 21 horas, na igreja de Nossa Senhora da Assunção, em Almada, por um coro de 340 vozes, acompanhado de uma orquestra de 50 elementos. Em Junho será apresentada no Santuário de Fátima, e em Novembro na Fundação Gulbenkian, em Lisboa.
Sexta-feira, 17 de maio, dia do aniversário, o bispo de Setúbal irá presidir à eucaristia comemorativa e vai ser inaugurada uma fonte luminosa e um conjunto de esculturas. Porque esta é uma data que merece ser celebrada, diz o padre Sezinando. “Fazemos 60 anos. Não são 50 nem 75, mas é um número redondo, e há certas datas que vale a pena comemorar com mais solenidade, para recordarmos a importância daquilo que celebramos. E mais importante do que esta imagem que está aqui, de betão, é o que ela transmite às pessoas – é um sinal da fé, da devoção do povo português”.
Há seis décadas a ‘abraçar’ Lisboa, a imagem de Cristo Rei tem 28 metros de altura, e foi esculpida a mais de 100 metros do chão. O Santuário é dedicado ao Sagrado Coração de Jesus, e inclui uma capela de Nossa Senhora da Paz.

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