Sabiam que Portugal teve uma rainha fotógrafa?
Não era conhecida a faceta artística de D. Maria Pia, incluindo 30 fotografas cuja existência era desconhecida até agora.
A exposição “Um Olhar Real” revela a faceta artística de D. Maria Pia, incluindo 30 fotografias cuja existência era desconhecida até agora. A mostra abriu ao público no Palácio Nacional da Ajuda.
O que
se apresenta agora é completamente inédito, quem vê fica com uma visão
completamente diferente desta rainha. O gosto pela prática do desenho e
aguarela, e especialmente da fotografia, é uma grande novidade”, reforçou o
mesmo responsável.
Reparte-se por dez núcleos,
num total de 400 metros quadrados. São 30 as fotografias tiradas pela rainha,
além de 234 obras originais de aguarela e desenho.
“Organizar a exposição
revelou-se uma novidade para muitos técnicos desta casa, que conheciam algumas
peças, mas não tinham a noção da dimensão e abrangência da obra”, revelou ao
Observador José Alberto Ribeiro, director do palácio.
“Um Olhar Real” teve cerca de
um ano de preparação e poderá ser vista até 21 de Abril, com entrada a 3,50
euros.
Em Outubro do ano passado, o Palácio da Ajuda mostrou o trabalho
fotográfico de uma outra rainha, D. Amélia (1865-1951).
O espaço expositivo é da
autoria do arquitecto João Herdade e da designer Sónia Teixeira Pinto. Em fundo, soam
as mesmas músicas que Maria Pia escolheu para um jantar em 1902 na Ajuda.
As
fotos estavam guardadas no núcleo de fotografia do palácio. Todos estes
materiais, incluindo as máquinas e utensílios da rainha, estavam em reserva e
foram trazidos e estudados. Conseguimos produzir o primeiro estudo detalhado
sobre a rainha enquanto fotógrafa e percebemos que ela não fez fotografia só
por ser novidade ou moda na época. Estão expostas máquinas que lhe pertenciam e
reproduções de faturas da Kodak e dos livros que encomendava ao estúdio Nadar,
em Paris, sobre técnica e revelação”, explicou José Alberto Ribeiro. “Outro aspecto
novo é saber-se que a rainha também experimentou a escultura. Mostramos uma
única, um busto que é supostamente um auto-retrato.”
As 30 fotografias exibidas
são reproduções e não originais, por motivos de conservação, de acordo com o
director. Algumas são de pequeno formato.
“Para apresentar as originais
teríamos de reduzir iluminação do espaço, para não prejudicar a conservação.
Por isso, optámos por reproduzir as fotos, em sépia, como os originais, algumas
em versão ampliada. Além disso, as imagens são também exibidas num grande ecrã,
com as respectivas legendas”, pormenorizou o responsável.
As imagens revelam os locais
por onde a rainha passava, muitas registam paisagens, outras retratam pessoas
que posam de propósito para a câmara. Em alguns casos, a rainha fotografou
temas que também desenhou ou pintou.
Quanto aos desenhos e
aguarelas, são sobretudo registos de Cascais, local de veraneio da nobreza e da
alta burguesia, do Bosque da Guia, do Paço da vila de Sintra, das praias da
Ursa, Adraga e Maçãs.
Não são claras as razões por
que se desconheciam até hoje os trabalhos fotográficos de Maria Pia.
Questionado sobre o assunto, o director do Palácio da Ajuda sugeriu que se
tratou de falta de investigação por parte de quem o antecedeu. Não haveria
sequer uma catalogação completa.
“Enquanto técnicos,
profissionais e dirigentes de museus devemos estudar, aprofundar e divulgar o
conhecimento das colecções de forma mais sistemática junto do grande público,
temos essa obrigação”, respondeu José Alberto Ribeiro, no cargo desde 2013,
depois de sete anos à frente da Casa-Museu Anastácio Gonçalves, também em
Lisboa.
“Quando
começou a ideia de fazer esta exposição, pedi uma contagem das aguarelas da
rainha no acervo do palácio. Aquilo que parecia ser uma obra com dezenas de
exemplares chegou, afinal, às centenas. No início não sabíamos sequer que
estaríamos a mostrar máquinas fotográficas ou material de revelação. Foi uma
descoberta.”
Em termos estéticos, os
trabalhos da rainha não assumem relevância de génio. “Há trabalhos desiguais”,
resumiu José Alberto Ribeiro. “Mas temos desenhos da década de 1880 muito bons,
com mão firme, se comparados com os primeiros desenhos da rainha, que eram
meros exercícios. O que temos quase sempre é um olhar de enquadramento, mesmo
na fotografia. Ela procura uma perspectiva que seja equilibrada em termos da
composição da imagem. A sensibilidade é romântica, mas há já um
pré-naturalismo. Se a alinharmos com a cronologia francesa, é uma naturalista.
Em relação a Portugal, será um pré-naturalismo.”
O Palácio da Ajuda foi
residência oficial da corte portuguesa a partir de 1861, até à queda da
monarquia, em 1910. D. Maria Pia casou-se com D. Luís I aos 15 anos e entrou no
palácio em 1862. Ali nasceram os príncipes D. Afonso e D. Carlos, este último
assassinado em 1908 no Terreiro do Paço. Maria Pia viria a morrer em 1911.
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